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DE IBIARA
Você sabia que a Pedra do Reino já foi palco de uma das maiores chacinas do sertão?
No último domingo, 25 de maio, dezenas de pessoas se reuniram em São José do Belmonte, Pernambuco, para prestigiar a tradicional festa da Pedra do Reino. Com atrações como a dupla Iguinho e Lulinha, o evento celebrou a cultura e a tradição nordestina com muita música e alegria.
Mas o que poucos sabem é que esse mesmo local guarda uma história macabra e sangrenta, marcada por um dos episódios mais chocantes do sertão pernambucano.
Tudo começou com o Sebastianismo, uma crença que surgiu em Portugal após o desaparecimento do rei Dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Sem corpo encontrado e sem herdeiros, nasceu a lenda de que ele retornaria para salvar a nação. Essa mística atravessou o Atlântico e influenciou movimentos religiosos no Brasil, especialmente no Nordeste.
Entre 1836 e 1838, uma seita messiânica liderada por João Antônio se instalou na região da Pedra Bonita — hoje conhecida como Pedra do Reino — no município de Belmonte, Pernambuco. Inspirados pelo Sebastianismo, os seguidores acreditavam que Dom Sebastião retornaria ali.
Após a saída de João Antônio, seu cunhado João Ferreira assumiu o comando, sendo reverenciado como “rei”. A comunidade vivia isolada, com seus próprios rituais e hierarquia, que incluía títulos como rainha, príncipes e princesas.
João Ferreira introduziu o chamado "vinho santo", uma bebida feita com jurema e manacá, com propriedades alucinógenas. Após consumirem a bebida, os seguidores acreditavam ter visões do rei Dom Sebastião e se preparavam para rituais de sacrifício.
Em 16 de maio de 1838, João Ferreira convenceu seus seguidores de que o retorno de Dom Sebastião só ocorreria após o local ser “lavado com sangue”. Tomados pela fé e pelo delírio, após beberem o vinho santo, iniciaram um massacre que durou três dias, resultando na morte de mais de 80 pessoas, incluindo mulheres grávidas e crianças. O próprio João Ferreira foi morto por seu cunhado Pedro Antônio, que afirmava ter recebido uma mensagem divina. O banho de sangue só terminou com a intervenção do major Manoel Pereira da Silva e sua tropa.
Dois meses depois, o padre Francisco Correia foi até o local, sepultou os corpos e desenhou o cenário que encontrou, como forma de alerta para a população. Esse desenho está preservado até hoje no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco.
Apesar dessa tragédia, a história da Pedra do Reino inspirou obras importantes, como o romance “A Pedra do Reino” de Ariano Suassuna. Desde 1993, São José do Belmonte celebra a tradição com a Cavalgada à Pedra do Reino, que mistura fé, cultura e história. O evento reúne cavalhadas, bacamarteiros, reisados e uma cavalgada de 30 km até a Pedra do Reino, atraindo milhares de pessoas.
A história da Pedra do Reino é um exemplo claro de como o fanatismo pode levar a tragédias, mas também de como a cultura pode ressignificar o passado e transformá-lo em símbolo de identidade e resistência do povo nordestino.
E você, conhecia essa história?
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