O “Professar” do Século XXI – um Abismo para Esperança
Houve tempos, que o professor era visto como uma figura de autoridade respeitada, cujas palavras ecoavam não só nas salas de aula, mas nas mentes dos estudantes, reverberando por toda a sociedade. Hoje, o que vemos é uma realidade bem distinta e controversa. O professor do século XXI é alguém que, muitas vezes, se vê aprisionado entre a esperança de transformar o mundo e o peso insuportável de uma profissão desgastante, desvalorizada e, em muitos casos, violenta.
A primeira e mais visível contradição está na maneira como a sociedade trata seus mestres. Enquanto se exige do professor o papel de formador de cidadãos, de guia para um futuro melhor, a profissão é sistematicamente desvalorizada. Os salários, que apesar de ter um piso salarial, muitas vezes mal cobrem os custos básicos de uma vida digna, e isso não é a única evidência. O que realmente desanima é a ausência de um sistema de apoio real, que reconheça o trabalho árduo que o professor realiza. Ao invés de receberem a valorização esperada, os professores se veem cada vez mais distantes de uma rede de suporte institucional que ofereça condições mínimas de trabalho. Faltam recursos pedagógicos, infraestrutura, e, acima de tudo, uma gestão pública que compreenda que a educação é um investimento, e não um gasto.
Se o desamparo financeiro e institucional não fosse suficiente, o professor também se vê alvo de uma violência crescente. Não apenas a violência física, que infelizmente tem se tornado mais frequente em algumas escolas, mas a violência simbólica de um sistema que cobra cada vez mais, sem oferecer respaldo. O professor, que deveria ser o guardião do conhecimento e da formação ética e cidadã, frequentemente se encontra em posição de vítima. O agressor? Muitas vezes, são os próprios alunos, refletindo um sistema educacional e social em crise. A violência contra o professor não é mais algo raro, mas sim parte de uma rotina angustiante que gera um círculo vicioso: o estudante não respeita o professor, o professor se sente impotente, e a sociedade observa, de forma passiva, como a escola, que deveria ser um santuário de aprendizagem, se transforma em um espaço de conflito.
E, por falar em sociedade, onde está o apoio das famílias? Em um mundo onde os desafios sociais são imensos, e as famílias estão cada vez mais sobrecarregadas, o papel dos pais na educação dos filhos tem sido negligenciado. Não se trata de uma crítica à figura dos pais, mas de uma reflexão sobre o distanciamento entre a escola e as famílias. Em muitos casos, o professor se vê sozinho na árdua tarefa de lidar com os problemas emocionais, sociais e comportamentais dos estudantes, (que não são de sua obrigação institucional), sem a parceria ou o engajamento das famílias. O que deveria ser uma parceria educativa se transforma em um campo minado, onde, ao invés de trabalhar em conjunto para o bem-estar dos estudantes, o professor muitas vezes se sente isolado e incompreendido.
Não podemos deixar de falar sobre o impacto emocional dessa desvalorização. O professor, que começa sua jornada com ideais de transformar realidades, muitas vezes se vê desgastado e desiludido. O burnout, o esgotamento emocional e a sensação de impotência são recorrentes. A educação, que deveria ser um espaço fértil para o florescimento de sonhos e ideias, se torna uma árdua batalha diária. E, quando o professor desiste, quem perde não é só ele. Perde a sociedade como um todo, que deixa de investir no pilar mais importante de sua estrutura: a educação.
No entanto, ainda existe uma chama acesa no coração de muitos professores. Ela resiste, apesar das dificuldades, do desânimo, da indiferença. Porque, no fundo, o professor sabe que, mesmo que o sistema não o valorize, ele está plantando sementes para um futuro melhor. E, talvez, seja essa a única recompensa que, ainda hoje, ele consegue encontrar: o impacto invisível, mas profundo, que sua dedicação pode causar na vida de um estudante.
O “Professar” no século XXI, no entanto, está longe de ser simples. A sociedade precisa reconhecer que a educação é um caminho que não pode ser trilhado sem os pés dos mestres. E, se queremos um futuro mais justo e próximo do perfeito, mais igualitário e mais humano, talvez esteja na hora de começarmos a valorizar e apoiar, de verdade, aqueles que têm a possibilidade de dar esperança ao mundo — uma aula de cada vez.
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