O ESPETÁCULO INACABADO DA PROCLAMAÇÃO
No dia 15 de novembro de 1889, o Brasil acordou sob um novo regime. A monarquia, que por décadas havia sido a estrutura de poder, foi derrubada por um golpe militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Mas, ao olharmos mais de perto, percebemos que essa mudança não foi apenas um ato heroico de alguns militares, mas sim o resultado de uma complexa teia de insatisfações e interesses diversos.
Marechal Deodoro da Fonseca, muitas vezes retratado como o grande herói da República, na verdade, hesitou em tomar a decisão final. Ele foi convencido por outros militares e políticos, como Benjamin Constant, que viam na república uma oportunidade de reconfigurar o poder no Brasil. A monarquia de Dom Pedro II já não conseguia mais sustentar o apoio dos militares, dos cafeicultores e da Igreja Católica, grupos que se sentiam desprestigiados e marginalizados.
A proclamação não foi um movimento popular. A maioria da população brasileira, composta por ex-escravisados, trabalhadores rurais e urbanos, não teve voz nesse processo. A república foi, em grande parte, uma invenção das elites, que buscavam consolidar seus interesses econômicos e políticos. A construção do enredo nacional republicano foi, portanto, uma narrativa que excluiu muitos dos verdadeiros protagonistas da história brasileira.
A república brasileira nasceu sob o signo da exclusão e da manipulação. A história oficial, ensinada nas escolas e celebrada em feriados, muitas vezes omite as complexidades e contradições desse período. A figura de Deodoro da Fonseca é mitificada, enquanto os interesses econômicos e as tensões sociais são minimizados.
A invenção do enredo nacional republicano também envolveu a criação de símbolos e mitos que buscavam legitimar o novo regime. A bandeira, o hino e até mesmo a data da proclamação foram escolhidos para criar uma identidade nacional que pudesse unir o país sob a nova ordem. No entanto, essa identidade foi construída sobre a exclusão de grande parte da população, que continuou a viver à margem do poder e da riqueza.
Ao refletirmos sobre a Proclamação da República, é essencial questionarmos as narrativas oficiais e buscarmos entender as verdadeiras motivações e consequências desse evento. A república trouxe mudanças significativas, mas também perpetuou muitas das desigualdades e injustiças que já existiam no Brasil imperial.
A história da Proclamação da República é um lembrete de que a construção de uma nação é um processo complexo e contínuo, que deve incluir todas as vozes e reconhecer todas as histórias. Somente assim poderemos construir um Brasil verdadeiramente democrático e justo.
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